quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

História da Pesca predatória de baleias em Barra do Sul na década de 50.

 

Pequeno histórico de Barra do sul

Barra do Sul  é um município localizado no litoral norte de Santa Catarina que teve a sua origem e povoamento relacionado com a pesca artesanal, que se constitui até hoje na principal atividade econômica do Lugar. Historicamente a cidade já esteve sob a Jurisdição de São Francisco do Sul e Araquari, vindo a se emancipar em 1992. O canal do linguado que desemboca nesta localidade já foi a porta de entrada das embarcações que desejavam reduzir a distância maritima até Joinville. Antes de ser interrompido em 1935 era intenso o trafico neste canal, onde os navios de até 4 metros podiam franquear com a maré alta. O fechamento do canal  estabeleceu uma nova ligação com a cidade, que passou a ser prioritariamente terrestre.

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A pesca da Baleia em Barra do sul

No inicio da década de 50, pescadores de Imbituba sob a responsabilidade de um sujeito chamado Aldo Pitigliano, se deslocaram para o litoral norte de Santa Catarina para pescar Baleias. Depois de arpoarem algumas em Barra Velha o grupo se estabeleceu em Barra do Sul, onde firmaram um contrato com a empresa Gotthard Kaesemodel (fabrica de cola e lixa) de Joinville, para fornecer toda a gordura dos cetáceos abatidos. A empreitada exigiu uma quantidade maior de mão de obra e a contratação de pescadores locais, que a efeito não praticavam esta modalidade de pesca. Dentre os pioneiros da localidade podemos destacar: Aristóteles de Souza, Gité Pantaleão Mendes e Teodoro wechter. Os pescadores de Imbituba, por sua vez, conheciam toda a tecnologia para pescar o mamífero gigante, a extração da sua gordura assim como a preparação dos "ferros" (arpões) explosivos para a sua captura. Por algum tempo o negócio prosperou mais as constantes desavenças entre eles, os levou a abandonar o trabalho e retornarem a terra de origem. Na temporada seguinte os pescadores de Barra do Sul, que já haviam se apropriado da mesma tecnologia retomaram esta atividade, iniciando uma fase pesqueira eminentemente local. Foi estabelecido também um novo contrato com a respectiva empresa e nesse período foram abatidas de 2 a 4 baleias (Jubarte ou Franca) por ano, o que gerava uma média de 100 barris de gordura. Entre julho a outubro acontecia a pescaria propriamente dita, que era realizada por 12 pescadores experimentados. O animal era arpoado na região costeira e rebocado até a praia, onde iniciava o trabalho para retirara do "toicinho" e de outros membros do seu corpo, que eram transportados em Caminhões para a cidade de Joinville. A carne e os ossos eram enterrados no "combro" da praia onde a baleia era retalhada. O cheiro repugnante dos resíduos que escorriam dos caminhões, deixava um rastro fétido que é lembrado até hoje pela população do lugar. Posteriormente verificou-se a diminuição no numero de baleias na orla da região, na mesma proporção em que a legislação para sua captura se tornou mais rígida. Por volta de 1963 o ciclo da pesca de baleias em Barra do Sul já havia chegado ao fim.

 

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Xilogravura do cosmographia de André de Thevet , 1574. Pesca e beneficiamento de Baleia.

 

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Baleia arpoada por pescadores de Imbituba. Praia do Tabuleiro (Barra Velha) em 1952

 

Aspectos da pesca predatória de baleias em Barra do Sul

A titulo do que ocorreu na região no final do século XVIII e inicio do XIX, a pesca predatória de baleia não cessou totalmente no século seguinte, ela persistiu de forma eventual e rudimentar. Com algumas inovações técnicas, o ciclo da pesca de baleias em Barra do sul na década de 5o, por exemplo, teve as suas próprias característica. As embarcações já eram maiores e motorizadas, o que dava maior força e agilidade na aproximação e abate dos cetáceos. Os investimentos como os fornos para o derretimento da gordura e as pipas para o seu armazenamento entre outros, já não era necessário pois a baleias eram cortadas em nacos (pedaços grandes) e transportadas em caminhões para o local de processamento. A carne e a ossada era enterrada geralmente no "combro" da praia, onde a presa era retalhada. Todas as etapas desta atividade era realizada por trabalhadores locais e o lucro rateado entre todos. Uma temporada bem sucedida podia render uma quantia de 2 contos de réis, que demonstra que esta modalidade de pesca era altamente lucrativa. O ferro (arpões) tinha um compartimento onde era colocado a carga explosiva, o utensílio se tornou muito mais letal do que o modelo anterior. Quando a pescaria ocorria com sucesso o arpão que era cravado na baleia deveria ultrapassar os 40 centímetros da sua espessa camada de gordura. A explosão tinha dois resultados práticos: de abrir uma fresta no mamífero aquático e projetar a ponta do arpão para o interior do seu corpo. Quando a morte não ocorria de imediato o animal era golpeado com arpões convencionais para acelerar o processo. È conveniente lembrar também que na pesca predatória de baleias em Barra do sul, já na sua fase final foi usado um modelo pequeno de " canhão-arpão", que era acoplado na proa da embarcação e cujo o efeito era devastador. Diferentemente de Barra do sul, não houve interesse e nenhuma iniciativa dos pescadores de Barra Velha na pesca predatória de baleias.

 

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Baleia Franca arpoada por pescadores de Barra do Sul - Década de 50

 

Modelo de arpão utilizada na pesca predatória de baleias em Barra do Sul

Memória de Aristóteles de Souza

Lança de madeira - 1,70 metros                       50 centímetros     25 centímetros

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A - compartimento onde era colocado a carga explosiva ( dinamite).

B - A ponta do arpão era soldada na extremidade do compartimento explosivo.

Observação: Os dispositivos A e B eram forjados a ferro.

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Fio acionado pela bateria da embarcação, utilizado na detonação dos petardos.

Desenho: José Carlos Fagundes.

 

Tecnologia dos Arpões

Segundo Aristóteles de Souza, antes dos pescadores de Imbituba deixarem Barra do Sul eles arpoaram uma baleia nas proximidades da Barra do Itapocu, porém não conseguiram captura-la pois o animal arrebentou o cabo que o prendia a embarcação. mais tarde o cetaceo apareceu morto na respectiva praia onde foi arpoado. "Um velho pescador das imediações conseguiu recuperar o "ferro" (arpão) e nos vendeu posteriormente", "Salienta". De posse da nova tecnologia os pescadores locais fizeram uma proposta a empresa Gotthard Kaesemodel: Ela forneceria os equipamentos necessário para a pesca da baleia e eles forneceriam todo o "toicinho" produzido. A proposta foi aceita. Aristóteles diz ainda que ao contrario de outros tempos no litoral de Santa Catarina quando era primeiramente arpoado os filhotes para evitar a fuga da mãe, em Barra do sul já havia a preocupação de evitar o sacrifício do baleote e quando isto acontecia era por efeito da dinamite que também atingia a cria.

 

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Aristóteles de Souza exibindo uma réplica de arpão utilizado na pesca predatória de baleias em Barra do Sul na década de 50.

 

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Baleia arpoada por pescadores de Imbituba. Praia do Tabuleiro (Barra Velha) 1952